A Guerra do Paraguai, também conhecida como Guerra da Tríplice Aliança, foi o maior e mais sangrento conflito militar da história da América do Sul. Envolvendo o Paraguai contra a coalizão formada por Brasil, Argentina e Uruguai, o conflito durou de 1864 a 1870 e deixou marcas profundas na região, tanto em termos de perdas humanas quanto de mudanças políticas e territoriais. Agora, 160 anos após o início do embate, é essencial revisitar os fatos e desfazer alguns mitos que se consolidaram ao longo do tempo.

As causas do conflito

O Paraguai, sob a liderança de Francisco Solano López, buscava romper o isolamento geográfico e expandir sua influência na região. A tensão começou com disputas territoriais e questões políticas envolvendo o controle da região platina. Em 1864, quando o Brasil interveio no Uruguai para apoiar uma facção política contrária aos interesses paraguaios, López declarou guerra ao Brasil e, em seguida, invadiu territórios argentinos, arrastando o país para o conflito.

O mito da intervenção britânica

Durante décadas, difundiu-se a ideia de que a Inglaterra teria incentivado e financiado a guerra para eliminar o Paraguai como potencial concorrente industrial e consolidar sua hegemonia econômica na região. Contudo, estudos recentes mostram que essa narrativa carece de bases sólidas. A economia paraguaia era essencialmente agrária, e o país não representava uma ameça real ao poderio britânico. Além disso, registros diplomáticos indicam que o governo britânico tentou mediar a paz no início do conflito.

A destruição do Paraguai

A guerra foi devastadora para o Paraguai, que viu sua população reduzir-se drasticamente. Estima-se que o país perdeu cerca de 60% a 70% de sua população total, com as maiores perdas entre os homens em idade de combate. As cidades foram destruídas, e a economia ficou arrasada por décadas. Apesar disso, Solano López é lembrado como herói nacional em parte da historiografia paraguaia, por sua resistência até a morte em Cerro Corá, em 1870.

Impactos no Brasil e na região

Para o Brasil, a guerra representou um alto custo humano e financeiro. Cerca de 50 mil brasileiros perderam a vida no conflito, e o esforço de guerra contribuiu para o enfraquecimento do Império, que enfrentaria a Abolição da Escravidão e a Proclamação da República nas décadas seguintes. Por outro lado, o Brasil consolidou seu papel como potência regional, ampliando sua influência sobre o Uruguai e a Argentina.

O legado e a revisão histórica

160 anos depois, a Guerra do Paraguai continua a ser objeto de debate entre historiadores. A compreensão do conflito evoluiu, abandonando interpretações simplistas e destacando as complexidades políticas, econômicas e sociais envolvidas. Ao revisitar esse capítulo da história sul-americana, é possível aprender lições valiosas sobre diplomacia, nacionalismo e as consequências da guerra para as nações envolvidas.