Depois de seis anos de uma dolorosa espera, chega finalmente o momento em que o Brasil olha para o tribunal com a esperança de que a justiça prevaleça. Nesta quarta-feira, dia 30 de outubro de 2024, começa o julgamento dos ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, acusados de terem tirado a vida da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes. O caso, que sacudiu o país, despertando um misto de revolta e comoção, terá no mínimo dois dias de duração, com a presença de testemunhas, familiares e o olhar atento de uma nação.

A Família, a Esperança e o Luto que Nunca Passa

Para Marinete Silva, mãe de Marielle, cada dia de espera por justiça é uma mistura de tristeza e indignação. Ao falar sobre a filha, ela não esconde a dor, mas encontra força para lembrar ao país da importância desse julgamento. "Que ninguém esqueça a forma como minha filha foi tirada de nós. A justiça precisa acontecer para que mais nenhuma mãe precise chorar dessa forma", afirmou Marinete, emocionada, na TV, na véspera do julgamento.

Anielle Franco, irmã de Marielle e atual ministra da Igualdade Racial, vê o julgamento como uma batalha por respostas e, quem sabe, algum alívio para a família. "É como reviver cada detalhe, como se eles estivessem nos contando tudo novamente, mas desta vez com a possibilidade de justiça ao final", comentou Anielle, ressaltando que a luta vai além desse momento e que ainda há muito a ser feito para honrar o legado da irmã.

O Tribunal e o Clamor por Justiça

O julgamento ocorre no 4º Tribunal do Júri, no centro do Rio de Janeiro, e, para manter a imparcialidade, o júri popular será composto por sete pessoas, sorteadas entre 21 cidadãos. Para garantir que o julgamento não sofra interferências, os jurados serão isolados e dormirão nas dependências do tribunal. As testemunhas que trazem o peso de suas memórias para o julgamento incluem Fernanda Chaves, assessora de Marielle e única sobrevivente do atentado. Sua presença é um dos momentos mais aguardados, pois ela traz consigo as marcas de uma tragédia que quase tirou sua vida.

Os réus Ronnie Lessa e Élcio Queiroz participarão do julgamento por videoconferência, das penitenciárias onde estão presos. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pedirá a pena máxima para os dois: 84 anos de prisão, defendendo que o crime foi motivado por crueldade e premeditado para evitar qualquer chance de defesa das vítimas.

O Passado que Trouxe o Caso ao Tribunal

Marielle Franco foi assassinada em 14 de março de 2018. A vereadora, que levantava bandeiras de direitos humanos e defendia moradores de áreas periféricas, se tornou alvo de um crime brutal. Na noite do atentado, ela foi seguida até o bairro do Estácio, onde foi executada com quatro tiros, enquanto o motorista Anderson Gomes levou três disparos. Fernanda Chaves, que estava no banco de trás, sofreu apenas ferimentos leves por estilhaços, mas carrega as cicatrizes dessa noite em seu coração.

A delação de Lessa trouxe à tona uma história de interesses sombrios. Ele revelou que Marielle teria sido vista como um empecilho ao controle de loteamentos ilegais na Zona Oeste do Rio. Além disso, apontou os irmãos Domingos e Chiquinho Brazão como supostos mandantes do crime, prometendo recompensas milionárias aos executores. Esses interesses se sobrepuseram à vida de uma vereadora dedicada, mãe e filha que usava sua voz para fazer diferença.

Justiça e o Futuro que Aguarda Respostas

O caso de Marielle tornou-se um símbolo de luta por justiça e direitos humanos, e sua voz continua viva nas causas e movimentos que se espalham pelo país. Marinete e Anielle esperam que, ao fim deste julgamento, a sociedade tenha um sinal de que não há impunidade para crimes tão cruéis. "Que isso sirva de exemplo para o nosso país, para que o Brasil seja um lugar mais seguro e justo para todos", desabafou Marinete.

Enquanto aguardamos o veredito, fica o pedido de uma mãe e de uma irmã, que, entre lágrimas e lembranças, ainda acreditam na possibilidade de justiça. Para todos os que acompanham esse caso, a esperança é que o júri leve em consideração não apenas as provas e os depoimentos, mas também a memória de Marielle e Anderson, e o que eles representavam para tantas pessoas no Brasil.